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Leitaria Garrett
segunda-feira, julho 26, 2004
  Espero por ti ao som destas notas musicais. Não consigo mais dormir na esperança da tua chegada, do teu sorriso em direcção ao meu, do toque leve das mãos que sei que rapidamente explodirá naquele entrelaçar de dedos. Parei de sonhar. Porque há já muito que não dormia um sonho tão forte. Vou deixando que os violinos me encantem com este rasgar de cordas que me parece demasiado perfeito para ser verdadeiro. Sem parar, porque activei a opção "repeat". Vou esperar. Só então, quando já me fores presente, desligarei o rádio. (R)
LEÃO, Rodrigo, "Uma história Simples" in Cinema, 2004.
 
domingo, julho 25, 2004
  Gostava que o blog tivesse uma opção para se escrever em pautas musicais: só assim estas letras fariam sentido. Gostava que conseguissem dançar ao som da melodia de si mesmas, sabendo que não largariam a pequena linha por um fragmento de segundo que fosse, na possibilidade de estragarem a sua própria essência, o seu próprio som.  Gostava, ao mesmo tempo, que as letras tivessem cheiro: que, no decorrer dos seus sincronizados movimentos, fossem espalhando odores de morango artificial, canela forte e esse outro cheiro inodor que naquele dia trazias no teu carro. Gostava que esta palavra "tu" tivesse os teus movimentos e, sobretudo, esse perfume só teu. Gostava de a poder manipular e mudar-lhe o tipo de letra, a côr, o tamanho... Gostava de a poder escrever quando e onde quisesse e de a guardar num bolso escondido das calças de ganga, talvez dentro de uma caixa de fósforos, como dantes fazia com as pedras semi-preciosas. Gostava , acima de tudo,  de te poder escrever numa palavra com a minha própria letra e saber-te em segurança comigo. Die Melodie läuft bereits und die Buchstaben sind noch nicht fertig... (R)


 
domingo, julho 18, 2004
 
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~~~~~~~~D~~~~~R~~~~~~~~~a~n~d~a~r~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~E~~~~~~~v~~~~~~~~~~~~~~~~
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  F U M A P E N S A R

 
 
El otro día estuvimos bailando a oscuras sin que nadie se enterara. Era ya tarde, unas 2 de la mañana, creo. Nos hemos desnudado de las sábanas de distintos colores y nos propusimos dejar huellas en las paredes de todas las habitaciones de arriba. Hemos dejado de ser ángeles. O si, por algo, hemos decidido seguir siéndolo, lo hicimos ya con alas negras.
 
  Porquê a melancolia feliz que sempre me é em forma de música lenta ou fotografia repleta de poeiras? Porquê essa força que me atrai constantemente para o passado e me traz a plenitude interior? Porquê a existência desse passado presente que não será nunca futuro, presente-passado, nem tão pouco presente-presente? Porquê a mediocridade desta minha suposta arte? Porque não o simples contentamento com aquilo que sou nos vários tempos verbais? (R)
 
  Ayer casi nos subimos por las paredes de la habitación hasta llegar al techo. Alex, el rubio (como le suelo llamar) y yo. Por debajo de todo seguimos descubriendo nuevos rincones a cada día que pasa. Nos creemos mejores que los demás y también eso nos alegra.
 
terça-feira, julho 13, 2004
  Olho-me de novo ao espelho e... weisst du noch was? Reconheço-me enquanto insecto kafkiano preso na minha própria existência. Um insecto de feições hediondas e defeitos que me vão prendendo a esta não-vida. Lá longe, na rádio, Rodrigo Leão acompanha ao piano palavras que desconheço. Vou tentando bater as asas no compasso da melodia, estratégia que sempre utilizo como um disfarce que me afasta do vidro-revelação à minha frente.
" já não sei o que esperar/ dessa vida fugidia"
 
No Chiado, de tardinha, às vezes via-os passar sorridentes...de mão em mão...Dizia quem via:"São rapazes, bons portugueses!".Dona Ana passava também sempre à mesma hora,com os seus longos vestidos de tecido importado do Brasil...Carlos, o engraixador residente, com esse há-vontade que tem quem trabalha na rua,rodava o corpo enquanto Dona Ana passava e,do seu pequeno banco de madeira velha,gritava em suspiros, para que todos ouvissem,o mesmo de sempre:"Ai!, Madame!...Que até me causa indigestão!"

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